10 de jan. de 2020

Uma rasteira da sombra e um ótimo skater



Havia um skater promissor na cidade das Nuvens, olhos azuis e cabelos de ouro. Inteligente, desbravava os manuais no caixote de um palmo!... Treinava, não menos do que todos os dias, sob o sol ou sob a lua, entre tréguas de chuva e bênçãos noturnas.

Encantava inúmeras garotas, meninas caiam à atrás quando passava; atendentes compravam-o com sorrisos e cantadas; jovens tentavam indiretas com olhares e jogadas de cabelo.

Dinâmico, o skater despistava as trilhas de encantamentos e refinava seu skateboard. Conheceu ótimos skaters, teve ótimos amigos, festejou ótimos eventos e viveu um verdadeiro skateboard.

Os meses passavam, o tempo passava e ele ficava cada vez melhor. Encontrava os erros, corrigia os erros; aprendia uma manobra, aperfeiçoava o manobrar. Doutrinava o skateboard a nível de colocar o objeto a onde quisesse. Conseguia ver e determinar o tempo entre uma primeira tentativa e o aprendizado. As sombras de seus amigos eram talentosas e Lorenzo era um misto de talento com um esforço surreal.

O tempo continuou passando... Quando uma primeira vez provou um cigarro do fumo vermelho. Não era proibido, gosto de fumaça e nada mais. Passou a tornar daquele momento um hábito. Logo passou a comprar suas próprias carteiras, ``O fumo vermelho``, o tempo passava enquanto a fumaça deixava de ser passa tempo, tornou-se simples vício e o fumo vermelho perdeu o gosto e virou um problema.

Economizar entre peças e tênis, gatinhas e diversões, resolveu desprover-se de tantas coisas, afinal, ``Largar o fumo vermelho?`` Não lhe parecia opção... As outras opções eram os cigarros estrangeiros, que entre economias, representavam menos ao bolso e mais dano à saúde. Decidiu: ``Menos gastos com o skate, fico com o vermelho.``

O tempo imbatível não parava... O desfruto de cinza em vento o enfeiava no sangue, seus cabelos loiros ficaram sem brilho e os olhos envoltos por um caráter amargo e escuro. Desprovido dos valores que desfrutava na juventude, não mais encantava gatinhas, não mais se importava. Os olhares o atravessavam nos lugares, era um só mais um, talvez largadão demais.

Aprofundou-se mais no amargar do seu eu, ``não há importância em ser bonito``; andava de skateboard todas as noites, economizando manobras em escadas e trilhos, os shapes duravam mais e ele revendia depois. Tomava fôlego ascendendo um fumo vermelho e treinava manuais em um caixote trincado e velho. O tempo maltratava a pista da sua cidade natal. Rampas e bordas se desfazem ao nunca mais, enquanto um evento de melhora era mais raro do que um eclipse.

Afastou-se mais do skateboard refinável, decidiu viver intensamente seus próprios sentimentos, longe das seriedades perto de suas sensações. Tomou viagem e resolveu ver o que a vida tinha a oferecer! Passou perrengues, enfrentou tempestades, correu de cenas de assalto, passou fome e aprendeu a dormir na rua. Aprendeu a fazer artesanato, diminuiu o tempo de skate, abandonou o fumo vermelho, optou pelo fumo estrangeiro. Aprendeu a esconder sua casa em becos e acordar para ver o que a vida tinha para oferecer.

Ele vinha de mais de uma década de skateboard, um futuro como skater ou super modelo. Resolveu abandonar sua condição de abençoado e procurar algo melhor, o que a vida poderia oferecer no desapego. Os anos fizeram Dread Locks tomarem a vez dos bonés, banhos e pastas de dente passaram a ser privilégios, coisas que ele não tinha mais. As refeições eram feitas na rua, no canto, com talheres nunca lavados e fome. Um cigarro de fumo cancerígeno preenchia-o pós refeição e o skate foi vendido há muito tempo.

O tempo continuou passando e Lorenzo continua por aí, remoendo-se em seus conflitos pessoais, sob vícios sombrios. Um ex promissor skater com antigos sonhos e feitos destinados a um triste fim.

Nenhum comentário:

Postar um comentário