10 de jan. de 2020

A vacina e o vô memória de elefante

Na Mini-ramp do quintal eu voltava combos flipados, além de grinds extensos e giros na transição. A sessão colaborava todas as manhãs, ao mesmo que tempo que o vô Edwin, ao lado no quintal, cuidava da jardinagem.

-``Meu colega de todas as manhãs, paralelo ao horário, pode me prestar um favor?`` - Vô Edwin pede de modo educado, uma tesoura em um punho e regador no outro, 06:00hrs da rotina.
- ``Só dizer`` - responde Eduardo, tranquilamente.
- ``Me acompanha em uma consulta médica hoje?...``

Ele queria ver a questão da sobrancelha que, sempre no espelho, estava sempre com mais pelos... Compreendido, sem problemas, ''algo que deve ser feito'' pensou Edu, ``vamos lá!`` Concordou e saiu correndo ``Vou lá rapidão pegar a calça de sair!`` Rumo a porta esquerda do guarda roupas ao lado da cama, último quarto.
O vô, enquanto isso, entrou na cozinha e preparou um café de grão moído e pouco açúcar. Na volta do neto, Edwin encontra-se na cadeira sem espuma, afirmando ``Toma lá!`` Oferecendo uma xícara preta de um vulcânico café.
Pós conversa frívolas, Edu pediu licença para arrumar o carro; abriu as janelas e retirou as peças do acento do passageiro. Enquanto o vô esperava com o telefone, o telefone em mãos. Uma buzina surpresa surge nas costas do vô seguindo da exclamação ``Vão bora vô! Tá na hora! O pânico é pra agora!`` chamada que ascende o íntimo corredor do velho ancestral que... Levanta da cadeira.
Seguem pelas avenidas mais calmas, entre trocas de conversas e histórias políticas...

Chegando no posto de saúde, estacionam frente um cartaz imenso ``Tome vacina!``
- ... Não sei como funciona essa coisa das vacinas, vi na televisão que um sujeito perdeu as pernas e os braços por não ter tomado a do tétano! - Relembra Edu frente ao cartaz do postinho.
- Perdeu as pernas e os braços?
- Sim, ele nunca havia tomado a vacina , e quando contaminou, o que era pra ser uma agulhada virou uma amputada...
- Mas é de graça rapaz! - Defende o vô - só vir aqui!

Entraram pela porta da frente, o ambiente estava com muitas cadeiras e vazio; Edu vê uma escadinha flipável de poucos degraus numa porta de canto. O vô segue até a atendente confirmar o horário marcado, enquanto isso o neto senta-se disposto a qualquer infinita espera... ``Senha 5!... Ninguém? Senha 6!... Alguém?...`` Grita uma moça na porta de uma sala com a escrita ``Vacinas``. O skater vai até lá, pergunta qual o procedimento para tomar vacina, a moça branca de cabelos escuros respondeu prontamente que bastava pegar uma senha. Ele vai até o balcão, vazio, recolhe uma senha e volta. Entra na sala, depara-se com a mesma mulher espreguiçando-se, busto elevado, apaixona-se... Entrega a senha e recebe o pedido da carteirinha de vacinação, ``não possuo...`` e ela confere no computador ``nada registado por aqui também... Você vai ter que tomar todas!`` Ela surge com uma cartela cheia de quadrados com nomes: Febre Amarela; Hepatite; Tétano...
Explicou a respeito das datas, o tempo que leva entre uma e outra, deixou tudo anotado e buscou três seringas em uma geladeira nos fundos. Voltou ao rapaz elegante, esterelizou o braço e colocou a ponta metálica da seringa no ombro... e... o espeto pontiagudo de duas pôlegadas atravessa a carne... O ombro prova reconhecer o gosto de ferro em um misto com o agudo. Sensacional, coisa de instantes... Ela fez isso mais duas vezes e marcou a próxima para trinta dias.

Volta da sala e depara-se com o bravo vô.
- É coisa de velho só! - Exclama com um forte sorriso.
- Ótimo!... Também me apaixonei pela moça da vacina...
- Vamos passar no mercado, quero umas mandiocas para o almoço - Prontifica Edwin quanto a seus planos culinários, equilíbrio de pratos e talento nos temperos...

Sobem no carro e Edu liga um som instrumental chamado Corthexiphan, um instrumental calmo que imanta o ambiente. Troca marchas e saem em direção ao mercado, quando o rapaz aproveita para contar uma história sobre guaraná em pó: - Uma certa vez... O Eli estava empolgado com um campeonato que ia rolar no final de semana, à cidade de charmander, chamamos o Surfista que foi ao volante e o Japonês sob suas primeiras aventuras de skateboard. Às cidades vizinhas sempre haviam competições e a gente sempre desmanchava por lá!

Combinado no sábado, Gol preto, surfista na boleeia e a namorada no acento ao lado. O resto no banco de trás. O Eli na genial noite anterior, talvez pela empolgação, preparou alguns litros com guaraná em pó, contudo, misturas com sucos diversos e várias garrafas.

Saímos à estrada sob uma discussão quanto a potência do guaraná em pó, ressalvo em diferentes pontos e razões: Eli afirmava que a bebida não dava vez ao cansaço e a preguiça ia embora; eu costumava defender que não sentir desânimo bastava, energia por energia até leite com chocolate...; O resto da turma interpretava como algo mais forte do que café e a questão tratava de vencer as funções de um dia que começa de manhã e termina a noite.

Só que na noite de sexta eu dormi na casa do Surfista, a pegada era limpar o carro de balada e jogar um pouco de vídeo game, mas só jogamos. Saímos cedo no sábado com os pés em cima de latas de heineken amaçadas, sujeiras diversas e peças de skate.

Entre estrada e risos, chegamos! A pista era atingida pela força maciça de um chá de sol, condensados skatistas dentro de um bowl de rampas imensas. Guaraná em pó pra dentro! Skatamos o resto da manhã, almoçamos algum lanche, voltamos contra esperados momentos de competição, no meio termo: mais guaraná em pó...

Todo mundo participou, chegou no momento do pódium, fui chamado ao segundo lugar pelo locutor ``O menino que parece pertencer a categoria de amador 1, Eduardo!`` Sigo ao locutor com a pose de campeonatos semanais. ``Ladrão de premiação!`` Amigos soltam sonoros reconhecimentos. Houve amadores bolados circulando o lugar, amizades feitas, amizades reencontradas, escureceu e pós conversas e goles de guaraná, seguimos à viagem.

O Eli encontrava-se estraladão; a empolgação tomava conta, passava mal de tanto zoar! Não calava-se e recontava os acontecidos, o carro transbordava papos sobre manobras, sobre planos pensados, sobre a organização e sobre a premiação... Mas, o menino Eli não acalmava-se; comparou eventos; contou histórias de skate na infância; Relembrou curiosidades; comparou seu skate atual com skates de qualidade, o menino que era quieto estava tomado pelo guaraná! Manteve-se extremamente alegre! Contou sobre cola no tênis; sobre experiências pessoais; e falou... Falou... Falou...

Os risos não cessavam e Surfista estranhou:
- Você tomou mesmo todo aquele guaraná?
Foi quando o sentido tomou a vez em um grito conjunto da turma:
- ...Pior!...
O efeito energético da manhã estava mostrando atuação àquelas horas da noite.
- Foram três litros! Vocês tão normal e eu to estraladasso! Fiz várias garrafas e tomei o dia todo, depois participei da vaca de energéticos e dos refrigerantes...
Talvez a sensação fosse de intoxicação com super ânimo!

Ocorreu uma espécie de cálculo sobre onde foi o erro: a quantidade de guaraná misturado na água ou a quantidade de garrafas? Um dia daqueles era possível com menos energéticos? Será que dá pra dormir depois do que deveria ter sido cansativo?... Eli continuou sorridente e falante naquela noite, viagem pela Br, gol preto e risadas...

...

- Seus amigos são doidões! Que memória de elefante! Coisas dessa vida... Eu já dei essa pisada na bola! Uma vez quando plantava lá na fazenda... - Vô ri e compara na memória sua ressaltada experiência...
Chegam ao mercado! Na procura da vaga... Vê um quadrado, estacionamento, entre dois carros; imagina uma manobra de drift, ao lado do vô que reconheceria tamanha habilidade!... O menino coloca o carro paralelo aos outros, manobra a manivela de câmbio, calmamente, encaixa o veículo e puxa o freio de mão.
- A máquina de sorvete voltou a funcionar! - sai correndo cego pelo açúcar, enquanto o vô fica le esperando...
...
Fazem os compromissos do mercado e voltam, sob histórias diversificadas, contos de terror perto do meio dia; previsões de crescimento das flores do quintal; skateboard e histórias otimistas...

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