10 de jan. de 2020

Um último romance



Todos os dias Arthur chegava atrasado, dois murrinhos na porta da sala de aula. Cara de satisfeito!... Skate embaixo do braço, pedia para entrar. Vinha de um trajeto distante, um bairro de edifícios, lentamente, entre remadas e remadas, a vagar calmo pós leite com chocolate e pão da manhã, desacelerado e satisfeito. Um tanto impontual, não atrevido, mas, inoportuno e em condições de costumeiro atraso, pouco depois do ponto fixo do horário.

Assim desbravou as responsabilidades joviais, entre amigos e muito skateboard. Entre algumas namoradas, corações partidos e aventuras. Uma vez sua galera do colégio combinou um encontro em uma festa a fantasia, pré Hallowen, com direito a criatividade na indumentária.

De ``skatista anos 90`` foi, um par de tênis lindões, boné colorido e uma bandana no pescoço, calças cujo fundilho aproximava-se do joelho. Viu todos os seus amigos sob luzes noturnas, golpes de holofortes azuis, bebidas verdes e globos que brilhavam feito confete de fótons...

Viu Ana, linda, ao lado de suas amigas; peculiarmente reluzindo o próprio desejo. Ela parecia um eclipse, inconquistável e raro feito um momento que vale uma vida na memória. Ele tomou coragem e se aproximou, contou um quebra gelo, puxou algum assunto infinito... Encantado, via nos olhos dela o reflexo do próprio querer... Pediu um beijo. Ela ouviu, sorriu, pensou, respondeu com um sim que tornou-se o início de um casal em uma noite inesquecível.

Os tempos passaram; logo ele, em treinos excessivos sobre o skateboard, tornou-se responsável no mesmo. Assumiu apoio de marcas, gravou curtas, correu eventos, fez fotos comerciais, defendeu pódiuns e chegou a nível profissional... Mais tarde, entre os vinte e os trinta anos; vivia o misto de fama com esporte, uma particularidade categórica na vida de um skater profissional. Envolvido com mídias específicas e um tanto desligado dos numerosos campeonatos. Agenda de diário skateboard, desfrutava um sonho não menos grande quanto seu próprio tamanho!

No final de ano foi visitar sua mãe na cidade do seu histórico adolescente. Ficou nostálgico, viu os antigos amigos, as antigas ruas, os antigos lugares... Passou no Shopping, conhecer a Mini Ramp nova da SkateShop nos últimos andares... Passou na sorveteria, pegou um Milk Shake de frutas vermelhas, novidade pós Natal, quando viu Ana. Linda, entre vitrines em uma loja de livros. Entre o espantado e o apaixonado, um tanto surpreso e tímido de skate em mãos, só de passagem, calça caída, distante de estar apresentável.

Avulso, pensou em improvisar um oi; pensou em procura-la no telefone; pensou em desfarçar um desconhecimento; pensou, pensou e parou quieto. Observou a saída da livraria, Ana saía com uma sacola, queixo à cima, um sorriso no rosto, olhou para o lado e... o notou! Abaixou a cabeça, deparou-se com a timidez, olhou novamente e o reconheceu! ``Arthur!`` e um beijo na bochecha formalizou um reencontro; conversaram por uma hora e mais porções... Trocaram numeros de telefone e se despediram ao que seria o início de longas conversas de final de ano...

Ele precisava voltar à capital em Janeiro, compromisso com fotos e um comercial; sabia que seu encanto de Dezembo seria sem futuro. Sob várias trocas de mensagens, viu a questão piorar, a distância de realidade ir ao além, ela havia tornado-se Médica, aliás cirurgiã em notória importância profissional. Cuidava de vidas, suas horas valiam fortunas, era habilidosa em notório conhecimento cirurgico e seu tempo extremamente ocupado.

Eles continuavam conversando um tanto apaixonados, talvez irreversivelmente, sem ver começos ou presumir finais. Combinaram um encontro de Reveillion! ``Pós as festas, que tal ver os fogos lá na arquibancada da areia do mar?`` Convite que ela aceitou em condição pontual: ``Às 00:10hrs!``

Alguns dias depois chegou o último do ano, final de Dezembro a noite. Quando famílias festejavam, ceias traziam frutos e frutas; Champagnes esperavam os últimos instantes do ciclo, quando Arthur recebe uma mensagem de reconfirmação. Contenta-se e assiste o início dos fogos, a contagem é feita, o ano velho termina e abraços o celebram!

Poucos minutos do novo ciclo e ele sai rápido. Pega as chaves do seu apelidado ``CarroBoard`` e só vai. Encontra Ana frente ao seu condomínio, um abraço e risos comemoram o ano novo e iniciam o passeio. Ela conta sobre a rolha de champagne que passou rápido pelo seu braço ``Raspou``; os fogos que subiram antes da contagem e que da areia sob o céu noturno a vista seria surreal.

Desceram e foram à arquibancada; explosões douradas golpeavam os céus; lágrimas e sorrisos diziam-se incapazes de traduzir emoções; assistiram o show de chamas voadoras; contaram sobre suas pirações e sonhos de Reveillion. Provaram-se em beijos que pareciam continuar a noite da festa há muitos anos... E um novo começo formou um casal próspero e apaixonados.

Ele teve que voltar para a capital, ela teve que voltar para uma rotina intensa; eles sofriam com poucos encontros, mas ignoravam problemas; quando encontravam-se eternizavam momentos, provavam a saudade, amam-se como nos primeiros encontros, festejavam-se encantados e provavam que finais pertencem só aos contos de fadas... Não para eles...

Nenhum comentário:

Postar um comentário