25 de dez. de 2020

Um último romance


No início de um ano novo, amanheceram na praia, assistindo o nascer do sol, entre conversas e risos, quando só de ver o outro começar a pronunciar já se entendiam. Os olhares de um ao outro são mais do que expresso, gostar!... Amam muito e possuem um reluzir de carinho que parece pedir licença ao eterno, os ares dizem querer que o hoje seja para sempre.
- Sabia que eu já sonhei muitas vezes com você? - Ana diz - Minha mãe sabe. Uma vez nos beijamos e, sem saber que nos meus sonhos, acordei, e ter que abrir os olhos desejando voltar a dormir foi difícil, viu? E não via isso como algo que iria acontecer. Amanhecia, lentamente, enquanto nuvens iam de um lado a outro longe no oceano, o sol brilhava em mel leve, o relógio dizia que tinham todo o tempo do mundo, entre reviravoltas e planos juntos, muitos encontros pela frente.
- Eu também via como algo inimaginável, talvez se eu pensasse muito em nós desistiria logo, e ao invés de fazer tudo certo faria tudo errado; entre nós, amo que estejamos juntos. - Ele sorri, ergue levemente o queixo, o sol entre nuvens ilumina seu rosto, os olhos clareiam a fundo - Talvez eu seja um dos últimos românticos. Espero roubar você por inteira nesses dias, você precisa conhecer a hamburgueria do centro, servem muita coisa gostosa e o Bar temático que quero te levar hoje a noite.
Entre planos os dois não dão margens a quem pretende se soltar, quando não dá para deixar o outro ir, então ele a convidou a almoçar estrogonofe de frango com batatas, o que a fez responder com um sorriso e ``claro!`` Levantaram-se, chaqualharam a areia das roupas, ela reluzia com um sorriso amoroso e a franja de um castanho claríssimo desenhada para o lado do rosto, uma felicidade que não dá para esconder; eram como a realização de um sonho, além da fantasia, ainda sim provavam algo que só melhorava.
Entraram no carro, um skate no banco de trás, aquele simples como o foda-se daquilo que não valia nada e era da hora de dar uma volta. Chegaram com uma aparente saudade de velhos namorados, aqueles que entram pela porta aos beijos, não passam do sofá; e quando deu 11:02, foram aos risos preparar o almoço, com os planos de assistir uns desenhos animados mais tarde, e passar na casa dela, com pelo menos uma hora livre a se verem prontos à noite.
A batata palha parece a parte perversa do prato, o que vem da embalagem para ser o prazer do estrogonofe que, de frango, ficou ótimo. Tudo foi muito bom e a sala tinha cortinas que faziam uma escuridão de cinema, onde riram muito, contaram histórias e enrolaram-se a dois entre almofadas. Tudo continua a ficar melhor do que viver um sonho. Quando já anoite, descobriram que havia anoitecido. Iam sair e ela ligou para casa:
- Oi, feliz ano novo! - Avisou que estava com o namorado - de férias da clínica até fevereiro, ufa, não sei, viu? Passo aí logo. Não tem nada!
Enquanto isso ele foi para a cozinha, preparou um suco de frutas, voltou com um copo e disse ``Vou me arrumar, volto logo.`` Foi ao chuveiro e em meia hora estava pronto. Saíram e foram direto à casa dela, sintonizados em um som ambiente de rádio, enquanto a cidade permanecia com os enfeites natalinos, brilhando sob a noite, conversavam sobre os lugares, sobre bons tempos. Chegaram ao prédio, a casa dos pais dela, os dois subiram, encontraram todo mundo, comemoraram o feliz ano novo. Ela quis logo mostrar os livros, o levou ao antigo quarto, e ao entrar pela porta, ``Uau``. Ela tinha coisa de ler para uma vida, uma estante repleta, transbordando livros e apostilas, enquanto ao canto da leitura um armário, desses de escritório, cheio com tudo que ela já estudou. Enquanto ele balbuciava encantado, ela dizia:
- Eu tenho tudo guardado, até o fundamental, sempre estudei muito. Lia tudo, duas, três vezes e se eu não tirasse dez... - Um sorriso com um levantar de queixo, apertando a boca, entre o orgulho e a timidez - Já volto, vou me arrumar.
Ele ficou ali um tanto perdido, um mar de livros, uma mesa de estudos ao lado, um ambiente de pessoa inteligente, sabe? Exatamente perfeita.
Ela voltou do chuveiro, pediu licença, ele foi ao corredor enquanto imaginava que, se não tivesse andado de skate tanto, tanto, tanto, poderia ter seguido o exemplo que ela sempre foi, o que nessa faixa de vinte e trinta anos é bem maneiro.
Pronta ela abre a porta, roubando um beijo, puxa-o pelo braço, vão à varanda com uma vista natalina, ela levanta o celular e tira uma foto, riem, abraçam-se em um momento de felicidade mansa e ficam por ali.
Seguem à saída, despedem-se com risos, vão ao corredor enquanto ela pára e confere as chaves, entram no elevador e vão ao nível da rua; passam pela entrada do edifício, ela dá uma conferida no espelho, nos dois, seguem ao carro, ele dá a partida e vão sob conversas atoa. Passam pelo calçadão da praia, veem muitas pessoas nas ruas, um ano novo animado; quando os ares não só prometem, mas sim brilham. Assim os dois sentiram-se imersos em uma boa vibe de janeiro.
Chegam ao bar e pegam uma mesa redonda, entre mesas e mesas, ela pede um drink e ele uma cerveja, a música ao vivo toma o ambiente e o lugar está imantado pelos enfeites de natal:
- Não podia ser assim para sempre? Árvores com luzes e o mundo tomado pelo brilho, não?
Ele concorda, dizendo que brilho não precisa ter fim e os enfeites do natal ``são os mais bonitos das épocas.`` Conversam bastante, filmes e músicas, ele conta teorias do universo, enquanto bebem, a noite passa e o ambiente é tomado por instrumentais. No fim da noite os dois que haviam bebido um pouquinho estavam bem alegres, riram muito, levantaram da mesa, despediram-se da noite e foram embora. Ao deixar ela em casa, deram longos abraços e beijos que, antes de muitos e muitos encontros, provavam mais do que gostar.
São um casal perfeito, finais pertencem a contos de fadas.